quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Talvez dura demais para um moleque dessa idade...

É tão bonito quanto a gente tem 17 anos e entra no jornalismo e acha que vai mudar o mundo. De repente, a gente já tem 23 anos e não sabe muito bem os caminhos que trilhou para chegar onde está. Parece que o tempo passou e passa rápido demais. Parece que as coisas foram acontecendo e parece que a gente não estava lá em todos os momentos. Foi tudo muito rápido. Pronto, finalmente a gente chega onde queria. Graduação concluída, mestrado quase lá. Trabalho em um jornal diário, o tão sonhado contato com a realidade.
Ser jornalista: saber o que aconteceu antes, ouvir diversos lados da mesma questão, informar e formar as pessaos. Só que a realidade, nua e crua, não é bonita. A realidade é arbitrária e os acontecimentos são complexos. Vão existir milhares de versões e a tal sonhada verdade, jamais será absoluta. Até porque terão milhares de interesse. Mas qual interesse deve vir em primeiro lugar? O do leitor, o do ser humano. Lições que o jornalismo tem me ensinado nesses últimas dias. De diferentes maneiras, inclusive algumas vezes me fazendo pensar até em sonhos nas minhas matérias. Algumas mais fáceis, algumas mais difíceis. E uma coisa eu digo, muitos órgãos públicos não ajudam nesse papel. Cansei de ouvir nesses últimos dias " Não, isso não é com o nosso setor". No outro setor:a mesma resposta. Impressionante, ninguém sabe o que tu precisa saber, ninguém sabe quem sabe ou a pessoa que pode informar nunca está presente. Mais uma lição dos últimos dias.
No meio dessas lições tem as coisas que nos deixam feliz, o leitor que agradece ao jornal porque achou o parente desaparecido, o leitor doutor em comunicação que envia elogios pela matéria ou o leitor que elogia a coragem do jornal de publicar sobre determinado assunto. Tudo isso compensa e compensa em muito.
Por outro lado, a gente ainda se choca. E isso é bom, eu acho. Significa que nós temos alguma sensibilidade. Como hoje, em que fui chamada para cobrir um caso de estupro, quando as garotas estavam prestando exames no pronto atendimento. Cheguei lá e vi elas, o rosto de cada uma daquelas meninas. No escrito no papel, elas são apenas meninas, vítimas de violência, não tem os rostos, os rostos que eu vi e que certamente permanecerão na minha cabeça por um bom tempo. Daí bate a tristeza, a gente vê que a realidade, nua e crua, é dura e cruel. Que o que a gente faz ainda é muito pouco. E não é querer criticar, é um sentimento de impotência. Como se a maldade do mundo fosse maior que qualquer coisa. Daí a gente vai fazer uma matéria sobre creches e vê que o número de creches que vai ser criado até 2014 não é suficiente para atender o déficit atual da falta de vagas na educação infantil. E tudo se encaixa, como em um quebra-cabeça.. E parece que tudo, tudo está errado.E que a gente tá sempre tentando tapar o buraco, mas que o buraco mesmo é mais embaixo.
São dias de incertezas quanto ao mundo, quanto à vida. Mas pensando bem, embora eu tanto me questione se escolhi a profissão certa, acho que estou no caminho certo, escolhi a profissão que ainda me permite me questionar. E como diria um colega meu, dias melhores virão. Amanhã é outro dia, é outra matéria, e tem sim algumas ótimas iniciativas e pessoas que nos dão tapas na cara, mostrando que a gente ainda tem poder de mudar alguma coisa.