quinta-feira, 24 de junho de 2010

" Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas...

...ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais "José Saramago

José Saramago sempre foi um consolo pra mim. Um sonho distante. Toda vez que pensava em tantos escritores e artistas genias acabavam loucos ou morriam cedo, lembrava de Saramago.Imaginava o único prêmio nobel de literatura da lingua portuguesa sentado eu seu refúgio, na ilha de lanzarote, no arquipélago das canárias na espanha, sentado tranquilamente a observar o mar e escrever.

Desde eu eu escrevi as primeiras palavras, carrego um sonho antigo de escrever um livro. Fiz algumas tentativas quando era mais nova, mas fui adiando a idéia para quando tivesse maturidade. No auge dos meus vinte anos ainda não tentei escrever a primeira página, ainda assim, sei que isso um dia vai acontecer. Porém, não me preocupo. As poesias e outros escritos quaisquer são rabiscados nos blocos,cadernos, atrás de provas...Enfim, qualquer folha que estiver ao alcance. Depois puxo as folhas, e coloco elas dentro de uma caixa no alto do armário. Não gosto de ler de novo o que escrevi, me dá uma sensação de angústia. Na verdade,só queria tirar aquilo de dentro de mim. Precisava fazer isso.

Saramago, escreveu seu primeiro livro de sucesso aos 60 anos. Explica de maneira simples a motivação para escrever mesmo depois de um nobel: "Ah, a minha motivação para escrever, o que espero recomeçar a fazer dentro de dois ou três meses, é igual àquela que era antes. Pensei e continuo a pensar que tenho muitas coisas para dizer. E são essas coias que eu quero dizer, independente dos reconhecimentos da posteridade, ou das glórias e, digamos, do dia em que "estou" Nobel ou não.

Particularmente, enquanto uns odeiam, adoro a maneira que Saramago escreve, a contrariar as regras e conseguir criar um texto interessante. Para quê um milhão de pontos e vírgulas se podemos criar paragráfo enormes onde parece que vamos acompanhando os milhões de ligações que o nosso cérebro faz no momento do pensamento? Adoro Saramago, acho sua morte uma perda enorme para humanidade, mas enfim, por mais corretas que sejam nossas vidas, não somos eternos. E é essa a grande beleza da vida, a impermanência.
É exatamente aí que queria chegar. Não entendo essa obsessão da medicina em manter nosso corpo jovem, funcionando, se nossa mente em determinado momento pára de funcionar. Adianta mesmo ficarmos vivos sem estarmos conscientes?
Eu, prefiro viver como José Saramago. Consciente, escrevendo até o último momento. E a partir do momento que perder a consciência, posso deixar esse mundo. Não tanho tabus pra falar de morte, gosto de tratá-la de maneira natural. Justamente por isso que falei: é a consciência da morte traz tanta beleza a vida. O "primeiro" ensinamento do budismo é justamente esse: a preciosidade da vida. E o melhor de tudo, nós humanos temos consciência da vida!
A vida de um animal pode ser ótima: comer, dormir e brincar. Porém, ele nunca terá a consciência que temos do que é estar vivo, e justamente por isto, jamais poderá escolher um caminho espiritual em que possa buscar sua evolução. Ele é simplesmente um animal e ponto. Nós temos muitas capacidades e potencialidades. Uma das principais na minha opinião é poder melhorar o lugar onde vivemos para nós, e podermos também contribuir com a evolução e crescimento dos outros. Viver consciente a cada segundo, talvez o desafio mais difícil da vida. Ao mesmo tempo, o mais gratificante de todos. Mas como diz Saramago, se não pudermos viver inteiramente como seres humanos, ou seja inteiramente conscientes, ao menos façamos de tudo pra não vivermos como animais, ou seja, inteiramente inconscientes. Quero ser como Saramago, um ser humano, até o final da minha vida.

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