quinta-feira, 5 de abril de 2012

Jesus Amaria o capitalismo?

Acabei de olhar "Capitalismo: uma história de amor". Não que isso tenha mudado minha vida, pois já vi uma série de documentários sobre o mesmo tema e tinha olhado uma parte dele há muito tempo atrás. Mas de certa maneira, as coisas ficaram um pouco mais simples agora, ou ainda vou conseguir me entender melhor escrevendo. Com certeza não posso dizer que fui "manipulada" pelo filme, pois já concordava com muitas coisas ditas antes e nem tanto com outras.

Prefiro não entrar na parte econômica, da qual gosto, mas não acho que tenha tanto gabarito assim para escrever. Mas falando da parte humana, a passagem do título foi
a que mais me encantou. O diretor Michael Moore procura representantes da igreja para falar sobre o capitalismo. É engraçado que, pelo histórico da igreja, talvez a gente imagine algo bem diferente do que eles dizem. Só que o que eles dizem é simplesmente: não, o capitalismo não é correto. O capitalismo para Jesus não seria correto. E para mim, não seria correto, simplesmente por causa daquela velha frase que eu já escrevi sobre no meu blog: "Amai-vos uns aos outros".

É por isso que já fui chamada de radical, do contra e etc. E é por isso que muitas pessoas me chamariam ainda de revoltada ou qualquer outra coisa do tipo. Só que para mim agora é mais claro do que nunca, nunca aceitei e acho que nunca vou aceitar algo que está errado na sua essência, algo que é egoísta por princípio. Algo que não é o bem comum...Ainda acho lindo salvar o mundo, mas cada vez mais, pelo momento que vivo agora, me pergunto de que maneira quero viver dentro desse mundo maluco. E não é isso. Não é ter mais poder, não é querer ser melhor que os outros, não é querer ser mais produtivo, não é querer ter mais, não é ser competitivo e não é ser injusto. É, toda fora de poder, é uma forma de "morrer" por nada.

Não, não vou morar no meio do mato, nem vou ir para Cuba,
como tantas vezes pessoas sem argumentos já me disseram para fazer. Mas ao mesmo tempo espero não perder nunca a sensibilidade e a ternura, não endurecer, não achar isso normal. Normal, não é. Bom, não é. Feliz, não é. Então, prefiro seguir meu coração e ir vivendo do jeito que acho correto, vivendo dentro, mas fora, em uma ambivalência difícil de entender para muitos, mas que para mim faz sentido.

Quero viver bem, é óbvio. Assim, como quero que todas as pessoas também vivam, pois todas merecem. E quero poder continuar sempre achando que eu posso fazer diferente, mesmo dentro desse mundo. E quero cada vez menos qualquer sentimento ruim no meu coração. Se o cara que fazia as falcatruas do filme pode dizer "Se eu não fizesse outro faria", eu só quero não ser essa pessoa que faz errado. Por mais bobo que possa ser. E quando um aluno do primeiro semestre chegar para me perguntar " Professora, você se arrependeu de ter escolhido o jornalismo?". Eu possa responder que não, que a gente deve sempre seguir acreditando, pois sempre existe espaço para fazer a coisa certa.
E voltando quatro horas no tempo, antes de "Capitalismo: uma história de amor", eu assisti " O brilho eterno de um mente sem lembranças". E me emocionei, com essas coisas bobas que existem na vida.Que é gostar de alguém, que é brincar na neve, correr na praia, isso que é realmente vida e isso que é felicidade. E é para isso que eu quero ter tempo na minha vida.

É a velha história de vestir as roupas, dançar a música, mas estar consciente do que realmente importa e do que realmente é verdadeiro. Entre outras coisas, para mim é poder dormir de noite tranquilo, pensando que pelo menos, eu tentei. E eu não quero revolucionar o mundo, pensando se são as pessoas que corrompem o mundo, ou o mundo que corrompe as pessoas. Eu só quero ter certeza que eu não fui corrompida. Como diria outro filme lindo " Nossa integridade vale tão pouco, mas é tudo o que temos. É o mais importante em nós. Mantendo nossa integridade, somos livres...Eu morrerei aqui. Cada pedacinho do meu ser perecerá. Cada pedacinho... Menos um. O da integridade. É pequeno e frágil... E é a única coisa que vale a pena ter. Nós jamais devemos perdê-lo. Nem deixar que o tomem de nós" ( V. de Vingança.)

Engraçado, no final do documentário, a última cena é do furacão Katrina, como se ele fosse um castigo ou uma lição. Eu sempre refutei esse pensamento, que é muitas vezes reproduzido pela mídia. Sempre achei que o jornalismo coloca os desastres naturais, nada menos que meu tema na dissertação, como algo sobrenatural, quando deveria desenvolver um olhar sistêmico que percebesse que na verdade eles estão ligados com nosso estilo de vida e com todos os nossos outros problemas: econômicos, psicológicos, sociais...Enfim, o velho argumento do Capra que a dinâmica subjacente a todos os problemas é a mesma. Porém, quem sou eu para afirmar algo?! Para saber se é castigo divino ou não é. Só sei que o tempo e a natureza trazem as respostas. E para quem acredita, 2012 tá logo ali.

"A menos que você se torne ciente de que está vivendo segundo planos artificiais, você não será capaz de sintonizar com o infinito, o natural, o rit. O cosmo é uma harmonia musical, mas não estamos em sintonia com ele. É necessário sintonizar. Essa sintonia se torna possível se você se rende ao todo.Lembre-se que a menos que você se conscientize das ficções sociais, dos jogos sociais... Eles são necessários, continue a jogá-los. Mas não seja sério em relação à eles. Represente-os, não se envolva com eles; permaneça destacado e desapegado." (Osho)

"A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia - como uma visão estratégica, e não mais como os comunistas a viam, uma tática para chegar ao poder -, a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social. E caminhando por aí eu acho que posso fazer alguma coisa. Não é mais uma grande revolução, com o esplendor daqueles tempos, mas é um pouco parecido com aquela história do Salinger, de O Apanhador no Campo de Centeio: quando eu era jovem, eu queria morrer pela revolução. Agora, quero viver para transformar um pouco as coisas. Sem grandiosidade, sem melodrama. Com pequenas ações, apenas." Fernando Gabeira

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