segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um final de semana com o mar...(22.01 - 17:21)

Domingo é um dia diferente em Palermo. É um dia em que as ruas estão cheias de turistas e coisas feitas especialmente para eles, como charretes para dar uma volta na cidade. De manhã, acordei e fui ver se minhas roupas estavam secas e tinha algo como um grupo de 30 senhores e senhoras em baixo do meu prédio olhando para a torre que fica na frente dele. Pela cara de surpresa das senhoras e senhores imaginei que o guia deveria estar contando algo muito interessante, pois ninguém nunca me contou de quando é aquela torre ou qual é a história. Resolvi baixar a música do meu canal Polônes de clipes e tentar ouvir o guia. De repente, todas as cabeças viraram e olharam para o meu prédio com a mesma cara de turista e eu ali, me sentindo pela primeira vez na vida algo turístico.


Resolvi retomar minhas atividades, ou seja, esquentar água no fogão, para lavar meu cabelo na piá, pois os problemas com a luz voltaram. Ontem à noite pensei, pensei e resolvi tentar ligar o aparelho que esquenta água, uns minutos depois estava sem luz, com luz, sem luz, com luz...Enfim, dos males o menor, resolvi esquentar água e pelo menos tomar um banho com luz. Já que na sexta tomei de caneco sem luz. É, mas não é reclamação. Até que é bom tomar banho no escuro, quando não usamos um dos sentidos os outros se intensificam e para quem não tem como tomar banho quente e com luz, água quente em balde vira uma coisa maravilhosa.
Continuando, depois de lavar os cabelos, fui comprar brócolis e cenoura para comer com arroz integral, meu típico cardápio diário no Brasil (arroz integral+legumes) que consegui implementar aqui, depois de achar Shoyu em uma loja de produtos chineses. Autêntico Shoyu Chinês, muito mais forte que os que têm nos supermercados do Brasil. Depois do banho fui encontrar o Kelvin, o menino Tawainês que trabalha no mesmo projeto que eu e com quem eu tenho mais afinidade. Não sei, mas é mais fácil para mim lidar com guris do que com gurias, acho que eles são mais simples. E as duas meninas do meu projeto ( China e Twain) estavam na Catânia.



No caminho ouvi um “ Você fala inglês” vindo do outro lado da rua. Eu disse sim e o homem de uns trinta e poucos anos veio falar comigo, perguntou onde ficava o “mercado de balarô” com um sotaque americano. Eu expliquei, então ele perguntou se eu queria ir almoçar com ele lá, eu disse que não que estava indo para Mondello. Ele falou que estava viajando por lugares como Catânia, Messina e etc. e perguntou se eu era da Itália ou da Espanha( não é a primeira vez que me perguntam isso). Falei que eu era do Brasil, mas não sei se foi uma boa ideia. Já tinham me dito que não é muito bom falar que é do Brasil aqui na Itália, pois muitas garotas do Brasil se prostituem na Itália. Não sei se foi isso ou outra coisa, mas a conversa degringolou. O cara falou que era americano e perguntou se nós podíamos fazer um “lindo amor”, fiquei com uma cara de quem não sabia se tinha entendido realmente o inglês dele, e ele continuou “ eu sou americano, você é da América do Sul”. Resolvi falar que tinha coisas para fazer e ele continuou “ but you have a beautiful body”. Resolvi ir embora, foi a cantada mais cara de pau que recebi na minha vida eu acho.


Finalmente, encontrei Kelvin e fomos para Mondelo. Mondelo é lindo. Ficamos horas lá curtindo o mar. A maioria das pessoas na Sicilia me dizem coisas como não ter graça ir para a praia no inverno, que o bom é no verão. Mas para mim, o lugar é lindo igual. E não gosto de praia cheia de gente, música e etc. Então, a paz da praia no inverno é maravilhosa. Lá não tinha quase ninguém, dois casais de garotos e garotas novas se amando na areia. Apareceu também um homem enchendo garrafas com água do mar, não entendi nada à princípio, mas depois ele acabou tomando um banho no mar, um banho mesmo, no frio, os dreads presos e ele só de sunga. Depois, se secou e colocou a roupa. Além de ser alternativo, tem que ser corajoso para tomar banho só no mar no inverno.


Hoje, fiquei olhando o mar e tentando não pensar em nada, parar a mente um pouco e só desfrutar do momento. Fiz a mesma coisa olhando as lindas montanhas e árvores do ônibus, as montanhas aqui são lindas, petrificadas. Cheguei à conclusão que se eu começar a pensar nas mil outras experiências que eu poderia estar tendo nesse momento, eu vou enlouquecer.


Cheguei à conclusão também que a gente sempre está no lugar que a gente deveria estar e que eu tenho que parar de querer achar um objetivo em tudo, mesmo que seja crescer ou melhorar o mundo. Não adianta ficar pensando qual lugar me faria crescer mais, que projeto mais iria mudar o mundo, tudo isso é extremamente relativo, existem lugares tão pobres quanto a África no Brasil, ou crianças tão mal criadas nos projetos da ONG que eu já trabalho. Infelizmente, acho que para o mundo mudar de verdade, precisamos fazer as pessoas mudarem e isso é muito, muito difícil. A meditação, por exemplo, é um caminho. Mas como dizia em um livro do Gourdieff que eu li, a linha que leva ao caminho certo é tão difícil de se equilibrar em cima que parece que é feita para você não chegar lá. Não é fácil estar de frente a nossa condição de seres humanos com todos os defeitos que isso inclui, principalmente o que acho que o mas difícil de mudar: o egoísmo. E tem também o tal do ego...e todas essas outras coisas que fazem com quem o mundo seja como é. Bom, mas isso é outra conversa e rende muito assunto.





Outro coisa que pensei é que é impossível fazer tudo sozinha e que tenho que ser compreensiva se as pessoas não têm o mesmo ritmo que eu não estão tão interessadas assim em fazer o que para mim é importante. Essa semana perdi a paciência diversas vezes, as meninas que trabalham no meu projeto (China e Twaian) não são muito pró-ativas e parecem não se importar muito em ser. Eu não gosto muito que as pessoas dependam de mim e diversas vezes fui meio que mãe, tendo que explicar tudo e ajudar em tudo. A menina que eu moro, por exemplo, tem medo de ficar sozinha em casa, então aonde eu vou ela vai. Eu gosto do meu grupo de trabalho, mas não gosto de depender das pessoas e não gosto que elas dependam de mim. Às vezes tudo que eu quero é fazer algo sozinha, por exemplo. Por isso, acabei me acertando mais com o menino, ao meu ver ele é o mais maduro. Talvez, por ter sido da AIESEC Nacional em Twain e, por exemplo, ter essa experiência de morar com um monte de pessoas. Uma experiência em que a gente tem que colaborar com quem vive com a gente, o que não tem acontecido na minha casa.


Além disso, essa semana acabei fazendo grande parte do trabalho sozinha, com horários exaustivos. Tudo isso, pois para mim é muito importante não apenas estar aqui, mas fazer o que eu tenho para fazer, ou era, pois agora relaxei. Como disse, não posso mudar o mundo sozinha. E tenho que entender que as pessoas têm tempos diferentes. Vou tentar relaxar essa semana. E isso é mais fácil depois de ter visto o mar lindo ontem e hoje, pois quando eu olho para ele eu vejo que no fundo nada têm muita importância. Só coisas simples, como a natureza e as pessoas que a gente gosta. Simples assim.

Nessa minha experiência não tenho aprendido como as pessoas são diferente, mas sim como as pessoas são parecidas. Ontem em Cefalú, estávamos olhando o mar e Kelvin me falou que a última vez que ele viu o mar foi com a ex-namorada dele, que ele ainda gostava dela, mas ela estava com outra pessoa. Hoje, ele escreveu na areia um dia relevante para eles e depois tirou uma foto, ele também gravou um vídeo falando “eu te amo” em Mandarin, ele disse que era para mandar para alguém importante algum dia, mas para mim era para ela também. No passado, eu pensava que a gente tinha uma essência, mas que as coisas podiam mudar dependendo da nossa cultura. Hoje eu vejo que as coisas dependem muito mais da pessoa que tu é, eu moro no RS e não como carne, por exemplo, enquanto o cultural é comer. A menina que mora comigo parece uma típica chinesa, super quieta e tal, mas tenho certeza que tem gente da mesma cidade dela que é completamente diferente. Bourdieu diria o contrário, que “tudo” é cultural, não sei , pode ser para os bens que nós consumimos, as escolhas que fazemos, mas a nossa personalidade acho que é uma coisa nossa e única e talvez realmente existam estágio diferentes. E de qualquer maneira, o mundo está cada vez mais parecido. A história que eu ouvi a vida inteira, que os chineses comem gatos e cachorros, por exemplo, é mentira. Eu acho que as pessoas em essência, são realmente parecidas

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