domingo, 28 de março de 2010

Bauman e os Nardoni.

Desde que o nome Zygmunt Bauman cruzou pela minha vida há uns anos atrás na praia quando eu lia o suplemento cultura da Zero Hora, senti que eu precisava ler ele. A matéria acredito eu ( faz muito tempo pra eu lembrar) era sobre o seu mais recente lançamento naquele ano, amor líquido, e falava é claro sobre o livro modernidade líquida.

Pois bem, vi de longe que esse era um dos livros de análise da sociedade atual que poderia contribuir muito na minha vida. Bom, anos depois a vivi, minha orientadora de pesquisa, falou que a gente deveria ler Bauman pro referencial teórico do meu projeto de pesquisa aprovado pela Fapergs. Sem dúvidas a idéia muito me agradou. Apesar de só ter precisado ler o capítulo dois, que trata sobre individualidade, não tive como não escrever.

Bauman nos traz no capítulo duas visões de mundo antigas sobre como o futuro seria o Brave New World de Aldous Huxley e o 1984 de George Orwell.Embora diferentes, as duas visões compartilhavam um mesmo pressentimento: de um mundo estritamente controlado, da liberdade individual não apenas reduzidas a nada ou quase nada, mas agudamente rejeitada por pessoas treinadas a obedecer ordens e seguir rotinas estabelecidas de uma pequena elite que maneja todos os cordões de tal modo que o resto da humanidade pode passar o resto da sua vida movendo-se como marionetes de um mundo dividido entre administradores e administrados, projetista e seguidores de projetos. Um mundo que fazia de qualquer alternativa algo inimaginável. Homens e mulheres já não controlam suas próprias vidas.

Isso fecha exatamente com algumas visões que eu tenho do mundo.E nem vou dizer que osho já dizia blablbalbla pq todo mundo que me conhece não agüenta mais ouvir minha visão de mundo do osho, já que consideram utópica. Cansei de ouvir as pessoas me dizerem que eu sou do contra, que eu quero fazer as coisas diferentes do que todo mundo faz.

Acredito sim como diz o Engenheiros do Hawaii, que seria mais fácil fazer como todo mundo faz. Mas pergunto, eu sei pq eu faço, as pessoas sabem pq elas fazem? Posso até comprar um tênis da Nike, mas faço planamente consciente que está escrito na etiqueta made in Twaian, e que com certeza as pessoas que o fizeram, ou até mesmo as crianças, não ganharam o que mereciam para fazê-lo. Como Mc Donalds sabendo o preço que a natureza paga pelo agrobussines e pela padronização mundial dos alimentos.

A publicidade com certeza é, se não for a maior, uma das maiores influencia de todos serem tão parecidos, de gostarem das mesmas coisas, de terem o mesmo padrão de felicidade. E mais do que isso, há anos padrões estabelecidos como os ideais, não dão margem para o diferente. Isso permeia toda nossa vida. Na minha humilde visão, o amor é uma coisa linda, e ciúmes e outros sentimentos negativos não tem nada a ver com ele. Porém, o nosso padrão de “amor”, é um padrão feio. Que corta a liberdade do outro, que nos traz sentimentos negativos, infelicidades. A gente tem que amar uma pessoa, não pode amar o mundo todo, a existência, a natureza...

Dizem que essa frase é do Bob Marley, não posso afirmar com certeza, mas ele está totalmente certo, ao invés de amar as pessaos e usar as coisas, hoje amamos as coisas ( Shell, a gasolina que você ama, Mc donalds amo muito tudo isso etc.. e usamos as pessoas. As pessoas viram mercadorias, que podem ser compradas, que são controladas, que não devem ter muitas vontades próprias.

Enfim, como eu vinha falado, não há espaço para o diferente, para tu ser simplesmente o que tu quer ser, o que tu te sente bem sendo. Pelo contrário, há lugar para o preconceito, para a exclusão. Em um colégio grande, vai ter um grupo que vai ser considerado o modelo ideal de comportamento, as gurias vão ficar atrás deles, e o resto todo vai se sentir muitas vezes inferior. Desde quando alguém é melhor ou pior? Somos diferentes!

E se tem outra peça muito importante nessa descriminação é ela própria: a mídia! Temos uma mídia classista e racista. Quer um exemplo recente que comprove isso? O caso Isabella Nardoni. Alguém já se perguntou quantas crianças não foram mortas por mães e pais nas favelas desse país nos últimos anos? Procure esses dados e chegarás à conclusão que a Isabela Nardoni não está sozinha nos filhos mortos pelos pais. Ou então, crianças que sofrem violência de todos os tipos de familiares diariamente. Perguntaria se não é até um caso pior e e mais traumático uma criança que é constantemente abusada sexualmente por um pai dentro de casa .

Óbvio, não dá pra comparar. Os dois são horríveis. Os pais terem matado Isabella é realmente horrível. Mas pq diabos a mídia dá tanta atenção pra esse caso enquanto tantos outros ficam esquecidos, enquanto os milhares de jovens que foram mortos pela polícia não tendo qualquer ligação com o tráfico( denunciado, por exemplo, no livro Rota 66 de Caco Barcellos) não foram repercutidos?

Simples, porque eles eram pobres e negros. E a Isabella era branca e tinha bom nível social. Temos uma mídia classista,elitista e racista. Acontecer crimes bárbaros nas classes baixas é aceitável, comum. Mas como alguém com “boa educação”, com um bom salário, pode matar a própria filha? E assim isso se torna uma novela, um verdadeiro Big Brother da vida real. Refletindo ainda os parâmetros maniqueístas da nossa sociedade. Ou seja, alguém é o vilão ou alguém é o bandido.

Pra mim o bandido é toda nossa sociedade, a educação que se recebe na família, a educação que se recebe no colégio. A falta de valores, a falta da igualdade. A vida previsível que todos nós seguimos, o ideal de felicidade plena associada com o consumo, quando a vida, enfim, é muito mais que isso. Tudo bem, acredito que as pessoas podem ser felizes seguindo esses padrões então, vivendo como tem que viver, consumindo o que tem que viver.

Mas pq existem tantos crimes como esses? Pq hoje dificilmente tu encontra alguém que consegue ficar plenamente feliz sem precisar de cigarro, bebida e por aí se vai...Pq todo mundo tem essa impressão de que tem alguma coisa errada? Pq de repente as pessoas se pegam tristes sem nenhum motivo aparente. Pq mesmo atingindo tantos objetivos, nunca nos sentimentos plenamente realizados?Pq não conseguimos desfrutar de um pouco de beatitude nos sentido completos e plenamente felizes?
Afinal, quem ganha com esse modelo de vida?

E pra finalizar uma frase citada por Bauman em seu livro, do Horace Walpole: “ O mundo é uma comédia para os que pensam e uma tragédia para os que sentem”

Imagem: Sanyasis do Swaha na ibiraquera

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